Você Compra Mais Games Do Que Joga?

Gastão acordou cedo, antes do meio dia, e sentiu vontade de ficar um pouco mais na cama. Já fazia tempo que ele não tirava um dia só pra ele. O dia da preguiça! Espreguiçou-se várias vezes, mas a preguiça só aumentava, afinal, era mesmo o dia dela.

Ligou a TV e começou a assistir o noticiário local que passava na hora do almoço. Depois de assistir algumas tragédias, e se sentir grato por estar vivo, Gastão pegou seu 3ds. Tirou o cartucho que estava no aparelho e ficou testando o 3d na tela inicial, totalmente despretensioso. Tirou os jogos da case e espalhou todos pela cama.

Qual jogo escolher? Surpreso Gastão notou e exclamou:

Eita! Não tenho tantos jogos quanto gostaria ter.

Ele estava com preguiça demais para jogar o mesmo jogo, novamente, desde o inicio. Assim, decidiu que seria mais interessante ouvir uma musica no próprio 3ds. Colocou o fone de ouvido e apertou o play na sua musica preferida. Gastão ficou alguns minutos escutando a OST de jogos como Super Mario Bros 3, Sonic 2, Zelda OOT entre outros. De súbito Gastão percebeu que não tinha tantas musicas quanto gostaria de ter.

Em épocas escolares os professores sempre comentam sobre o espirito consumista, sendo essa a pior característica dos países desenvolvidos. Um consumismo descontrolável toma conta das pessoas e elas não se satisfazem com o que possuem. Sempre querem mais! Quando alcançavam o que queriam a sensação de satisfação dura muito pouco, fazendo a pessoa logo mudar o foco e buscar algo novo. Era igual ao efeito do crack, só que ao invés de você vender as coisas que possui, você tem que comprar outras coisas novas. E não é que Gastão já estava na internet procurando novos jogos pra comprar?

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O anormal tornando-se normal

Exceção está se tornando regra, todos querem sempre mais e isso agora é absolutamente normal. Tente viver sua vida sem adquirir bens materiais. Tente. Tente não se parecer com o nosso amigo Gastão. Tente. Seus pais/esposa/filhos enlouquecerão e você sofrerá uma forte pressão para se adaptar ao mundo do consumismo. Sua vida precisa seguir o rumo da maioria e ser diferente não é apenas ser diferente, é ser maluco. Muitos dirão que você precisa ter uma casa, que precisa ter conforto, que precisa gastar sua juventude para estar bem preparado para a velhice. Que coisa louca! Agora, enquanto jovem, você tem energia, mas precisa usá-la para se preparar para o tempo em que não terá energia e estará muito velho para aproveitar algo.

É claro que tem muita lógica nisso, afinal a fórmula para essa tal vida feliz foi construída em cima de um regime capitalista. Morar em um país capitalista e tentar viver de outra maneira é pedir pra sofrer. Mesmo assim, você pode sobreviver com dignidade, ter conforto e saciar essa sensação de querer sempre mais. É possível, mas exige um esforço incrível, tanto que poucos aqui conseguem chegar lá.Money

Meu amigo Gastão precisou de ajuda. Ele procurou um médico e chegou a esse ponto:

“Olha doutor, na época do N64, as locadoras estavam cheias de jogos para escolher e podia passar um tempo com eles jogando em casa. Eu alugava muitos jogos, mais do que eu poderia jogar. Às vezes eu ia pra locadora e passava horas para escolher um jogo. A indecisão me mostrava que eu não estava interessado em algum jogo especifico, eu só queria alugar. Queria alugar qualquer jogo, qualquer coisa, mas eu precisava alugar, alugar, ALUGAR… Quantas vezes eu pedi para pagar na devolução!? Na devolução doutor, entende? Eu não tinha dinheiro, mas precisava alugar. “Por favor, eu pago na devolução…””

O Doutor meneava a cabeça positivamente, incentivando Gastão a continuar seu relato, enquanto fingia escrever algo em sua prancheta.

“Na época do SNES, as locadoras também estavam cheias de jogos, mas eu não alugava tanto. Acho que eu não alugava muito pelo simples fato de eu não possuir um SNES. Eu tinha um Mega Drive. Eu jogava Sonic 2 direto, todos os dias. Eu jogava o mesmo jogo até terminar. Sentia satisfação em terminar os jogos. Nessa época eu ainda não era um consumidor frenético! Quando será que eu mudei? Eu sei que foi na época entre o SNES e o N64. Mas o que me tornou essa criatura que não se satisfaz com tudo que tem?”

O Doutor receitou um remédio qualquer, instruiu para ele tentar se controlar e, assim que Gastão saiu do consultório, o Doutor ligou para a operadora do cartão de crédito tentando negociar a próxima fatura que passou dos limites. Até tu Doutor!?

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Pensando Sobre

É possível que você tenha se identificado com o relato supracitado. É possível que você esteja vivendo essa situação e não consiga mais se satisfazer com tudo o que possui, é possível que nesse momento você nem esteja prestando atenção no que está lendo. Será que, apesar de comum, a atitude de Gastão é a melhor atitude que podemos ter? Qual foi o ultimo jogo que você jogou do inicio ao fim? Como anda aquela sua lista de jogos antigos, o famoso backlog, que você vive prometendo jogar? Analise sua prateleira, ou seu HD, e perceba a quantidade de games que já possui. Normalmente eles são mais do que você precisa, porém muito menos do que você gostaria ter. Não vamos julgar, mas vamos procurar valorizar o que já temos. Que tal primeiramente cumprir sua promessa e dar uma chance aos jogos antigos? Aproveite essa fase em que muitos reclamam a falta de jogos, para jogar os jogos que você deixou passar. Sim, faça isso. Tire aquele seu vídeo game antigo da caixa empoeirada e jogue.

Outro ponto importante é evitar. Muitos estudiosos gastam horas e horas de vida procurando novos dispositivos para chamar sua atenção, para fazer seu cérebro reagir aos estímulos engenhosamente publicados por aí. Quando você acessa um site de vendas, procurando algo novo, mesmo que não precise, logo uma sensação de necessidade vai se apossar de você. Será abraçado pela vontade de comprar. Comprar qualquer coisa. Tanto que logo você estará longe da seção inicial, como alguém sem foco, simplesmente procurando algo que sua mente consiga justificar para que você compre por comprar. Essas armadilhas estão em todos os lugares e custam muito dinheiro para serem tratadas, por nós, como inofensivas. É algo que funciona sim, independente da sua capacidade intelectual. Evitá-las não é trabalho fácil, mas é totalmente benéfico se você realmente pretende comprar somente o que precisa.

O ponto é valorizar. Usar ao máximo. Reciclar. Sentimos o capitalismo agindo ao nosso redor, nas nossas amizades, nas curtidas em redes sociais, no pouco tempo que dedicamos ao que realmente importa. Tudo está se tornando descartável. É só questão de tempo para que você também seja descartado, assim como já deve ter descartado quem não merecia. Gastão é um personagem muito real, está presente em todos os lares do Brasil, em alguns ele dita as regras, em outros ele apenas adormece em tempos difíceis para ressurgir após quitarmos a fatura do cartão de crédito. É lógico que a escolha quem faz é você, compre o que quiser. O alerta deve soar quando procuramos algo que não encontraremos em compras. Quando queremos a sensação de realização, a sensação de ter o novo, o melhor, o quanto puder e o quanto antes melhor. Fato é que isso existe, fato é que muitas vezes ignoramos e só vamos perceber na hora de pagar as contas. Acordar e desviar desse hábito compulsivo de comprar por comprar é vital em tempos de facilidades para crédito e dinheiro fácil. Talvez você não tenha percebido, mas faça as contas.

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Quanto você gastou com games ano passado? Quanto você já gastou com games nesse ano? Quanto pretende gastar?

Pode ser assustador o valor que a calculadora mostrará e você perceberá que esse dinheiro poderia ser utilizado maneiras diferenciadas, que talvez ele esteja fazendo falta pra você nesse instante. Não se arrependa por ter comprado, apenas crie consciência de que é necessário ser comedido quando o assunto é dinheiro, capital. Fique de olho nos seus gastos, escolha suas compras com cuidado, compre o que realmente precisa e evite o espirito consumista. Ainda assim, será difícil se sentir bem, tendo menos do que gostaria, mas tudo é questão de hábitos e logo você consegue se desvincular desse circulo vicioso,  logo. Só assim você poderá retornar e jogar os jogos de antes, aqueles que você já comprou, que são seus, mas que foram descartados antes mesmo de serem taxados de velhos. Volte lá se conseguir, valorize o que já tem. É nessas pequenas mudanças que conseguiremos atingir um caráter diferenciado, é ali que aproveitaremos a vida sem precisar das compras em excesso. Hoje são os games que iremos valorizar, amanhã essa valorização se estenderá para todos os setores da nossa vida capitalista, valorizando os detalhes, valorizar o pouco, valorizar o que você já tem, o que já é seu e vale a pena.

Visio

Criador da marca 2join, ama os games!