What Comes After – Review
Com uma arte simples e bonita ilustrando um belíssimo roteiro emocional, What Comes After é uma experiência narrativa de encher os olhos – de lágrimas.
Desenvolvido por Mohammad Fahmi (ou somente Fahmi, como ele prefere ser chamado) em parceria com a Rolling Glory Jam e publicado pela Flynn’s arcade, What Comes After chegou ao Nintendo Switch, no último dia 01/04 e emocionou muita gente.
A música
Normalmente eu começo um review falando sobre o jogo e durante a análise falo sobre a trilha, mas desta vez peço a permissão de vocês para inverter a ordem um pouco. Antes de falar do jogo propriamente dito, quero deixar registrada a linda canção tema que What Comes After possui. Composta pelo grupo Indonésio L’Alphalpha, Pulang, Kembali (“De volta pra casa”, em português) traz uma mistura incrível de melancolia e esperança que dão o tom ao jogo – mesmo tocando somente nos créditos finais.
Jogos Narrativos
Não é de hoje que jogos narrativos possuem seu espaço. Já nos longínquos anos 90 o estilo “point-and-click” era famoso e seus enredos tinham bastante profundidade se comparados com a maioria dos jogos da época. Com o aumento da potência dos consoles as histórias foram sendo agregadas a gameplays mais complexos, mas ainda assim vários títulos utilizaram-se de maneiras simples para trazer tramas densas e envolventes. To the Moon e What Remains of Edith Finch são dois exemplos que ilustram bem esta categoria de jogos.
What Comes After prova que não é preciso muito para contar belas e emocionantes histórias, apenas um bom roteiro, uma arte simples e bonita (no melhor sentido da palavra) e boa vontade, sem pirotecnias que justifiquem 25 horas de jogo. Por mais clichê que pareça, mas às vezes “menos é mais“.
E essa é uma dessas vezes: What Comes After é um jogo curto, mas bastante intenso na sua proposta. Dá pra finalizar o jogo em cerca de uma hora e meia falando com todos os passageiros do trem (tanto no mundo dos vivos quanto no dos mortos) e assim aproveitar ao máximo e não perder nada do que o jogo tem a lhe oferecer.
A vida é trem bala, parceiro
Certa vez li um poema que falava sobre a vida e como ela era parecida com uma viagem de trem, com pessoas entrando e saindo. Algumas nos acompanham na viagem, outras embarcam e desembarcam sem que possamos perceber a sua presença. Mas o principal era que nunca saberemos o que acontecerá na próxima estação e principalmente: não sabemos quando vamos descer. Como é um poema meio grande não vou colocá-lo na íntegra aqui, mas vocês podem encontrá-lo procurando por “trem da vida” no google.
Talvez vocês estejam se perguntando “Mas o que diachos What Comes After tem a ver um poema que serve pra ilustrar mensagem de bom dia no grupo da família”? E a explicação está no próprio jogo: meios de transporte sempre foram utilizados em alegorias para representar a transição da vida para a morte. Lembram do barqueiro Caronte, que na mitologia grega levava as almas para o mundo dos mortos? Então, o trem e seu condutor são a versão “moderna” do barco e do barqueiro. E a história deste jogo se passa justamente em um trem.
What comes after?
What Comes After conta a história de Vivi, uma garota que dorme sentada no metrô enquanto volta pra casa e acaba acordando em um trem que leva pessoas para “o que vem depois” da morte. Achando que morreu, ela sai vagando pelo trem pra descobrir o que aconteceu até que encontra uma condutora que lhe diz que ela não deveria estar ali, mas que vão lhe deixar em casa assim que todos forem deixados no mundo dos mortos. Ela sugere que Vivi volte para o seu lugar e aguarde sentada, mas também pode aproveitar o tempo da viagem e conversar com os passageiros e conhecer suas histórias de vida.
Cada passageiro vai trazer uma reflexão sobre a sua própria vida: o que fez, o que deixou de fazer, suas frustrações, mágoas, arrependimentos e alegrias. Alguns estão conformados com a situação enquanto outros querem a chance de assombrar alguém que lhes fez mal, e por aí vai. E vai ser impossível não se identificar com vários deles, o que pode inclusive levar o jogador às lágrimas (se você não se emocionar você já está morto por dentro).
Uma das características mais interessantes em What Comes After é como ele traz pontos de vista bastante peculiares sobre a vida. Não são apenas seres humanos que falam de suas experiências, mas plantas e animais também. Desde um cachorro que está feliz por finalmente reencontrar seu dono (essa parte é pesada…) até uma flor triste por ter sido colhida antes do tempo, todos vão lhe fazer refletir se o modo como nós lidamos com a natureza é realmente o melhor possível ou se estamos tão acostumados a ver outras formas de vida como inferiores que não conseguimos enxergar o sofrimento que causamos nelas.
No início Vivi se acha um fardo para aqueles próximos a ela e inclusive já pensou até em tirar a própria vida. Porém conforme vamos conhecendo as histórias dos passageiros, ela começa a repensar suas atitudes. Assim ela passa a notar o quanto se cobra e se diminui, percebendo que recebeu uma segunda chance – uma sorte que os passageiros do trem não tiveram. E aí surge a oportunidade de mudar o rumo da sua vida e corrigir o que está errado. Bom, se eu falar mais do que isso eu conto o jogo todo, então melhor deixar vocês curiosos um pouco.
Problemas em What Comes After
Apesar de ter uma história e personagens muito bem escritos, What Comes After possui um problema com os textos na versão em português: em vários momentos o gênero dos personagens é trocado e em outros a tradução não faz nenhum sentido. Talvez em outros jogos isso passasse batido, mas como esse é focado na narrativa, acaba comprometendo e quebrando um pouco a imersão.
“Sentimento” é a palavra-chave em What Comes After
Falar de sentimentos é algo complexo, ainda mais dentro de um jogo. Entretanto What Comes After consegue trazer uma linda reflexão sem ser piegas ou usar frases prontas que soariam como uma palestra de coach. Por ser um jogo curto e bastante objetivo ele vai direto ao ponto e não tem tempo pra enrolar o jogador.
Como já deve ter ficado claro pelos parágrafos anteriores, o importante em What Comes After não é o que ele apresenta aos jogadores, e sim o que é causado neles. E acredite: ele vai te fazer parar pra pensar em muita coisa.
Sentimentos, sensações, reflexões e questões filosóficas são o grande ponto do jogo, tanto que depois de tantas histórias tristes e pesadas eu tive a sensação de ter sido um dos passageiros que desabafou com Vivi durante toda a viagem. E ao terminar o jogo a vontade que dá é de correr até aqueles que amamos e abraçá-los o mais forte que conseguirmos.
Afinal, é melhor aproveitar enquanto podemos, já que nunca se sabe quando vamos adormecer voltando do trabalho e de repente ir parar em um trem para o pós-vida…
What Comes After está disponível no Steam, no Itch.io e Nintendo Switch (obs.: na versão do Itch.io você recebe a chave pra ativação no Steam e também o instalador sem DRM para Windows e Mac).
Esta análise foi possível graças à Flynn’s Arcade que gentilmente nos cedeu uma chave para avaliação.
Prós e Contras:
Prós:
- Roteiro magnífico e emocionante;
- A trilha sonora de encerramento é linda;
- O jogo traz uma mensagem que nos faz refletir sobre nossos atos;
- Experiência curta, porém intensa.
- O preço no Steam está sujeira barata (R$ 10,89)
Contras:
- Erros no texto em português.
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