Você Jogará na Sua Velhice?
Dias atrás eu estava pensando sobre minha velhice, não sou tão velho assim (sou sim), mas pensar no assunto me deixou um pouco desconfortável. Só o fato de saber que estou envelhecendo desde o momento em que nasci e que não consigo fazer nada para impedir, isso já é motivo suficiente para perder uma noite de sono. É claro que esse tipo de abordagem do curso natural da vida é um tanto quanto inútil, não me ajudou em nada, mas a questão que ficou em minha mente foi sobre o que farei na minha velhice. Sou gamer e cresci jogando videogames, nascido em 1985 (falei que era velho), aproveitei quase todas as plataformas durante suas respectivas gerações. A questão é se eu continuarei jogando mesmo depois de velho. Hoje é fácil acreditar que sim, que continuarei jogando, mas será mesmo que esse amor pelo games se estenderá por muitas décadas? Vamos amadurecer essa ideia, vamos trabalhar um pouco mais esse tema.
Idade x Lazer
Hoje em dia estamos presenciando uma mudança na atitude da terceira idade e principalmente na aceitação da sociedade para que essa mudança aconteça de verdade. Muitos idosos frequentam bailes, fazem viagens longas, cruzeiros, namoram, passeiam, transam, gastam e fazem a economia girar. O mundo não estava preparado para esse tipo de mudança, as pessoas tinham poucas alternativas quando chegavam na terceira idade, mas com o tempo o cenário foi mudando, as empresas enxergaram uma fatia do mercado consumidor que estava abandonada, carente de opções, sendo que eram consumidores sustentáveis, com renda própria e que estavam dispostos a gastar o que for preciso para aproveitar essa nova fase de suas vidas. As opções foram surgindo, se adaptando e hoje é um público muito bem visto em diversos aspectos econômicos. O fato é que isso não era nada comum. O padrão era envelhecer e aguardar a morte, já descansando, evitando viagens longas, se dedicando aos netos, bisnetos e recebendo os parentes em casa, até o dia da morte. Isso era normal, aceitável, mas alguém começou a pensar diferente, ousou ser um idoso bacana, ousou viver se divertindo e levou consigo uma multidão de velhinhos que hoje se divertem mais do que muitos jovens por aí.
Eu citei essa mudança justamente por ela se adaptar a geração atual de idosos, que eram pessoas que a sua juventude tinham hobbies, dançavam, se divertiam e tiveram uma pausa durante a criação dos filhos, mas decidiram voltar a ativa. Se na juventude eles gostavam de dançar, fica claro que hoje, na terceira idade, eles tiveram a oportunidade de voltar a dançar. Trazendo isso para o cenário atual, onde temos pessoas que cresceram jogando, é normal imaginar que no futuro o cenário se adapte a nós, com isso, teremos jogos ou locais apropriados para jogadores da terceira idade. Imagine você, na terceira idade, jogando o mais novo jogo do GTA, podendo escolher não só a dificuldade do jogo, mas também escolher a abordagem do jogo: Junior, Pleno ou Sênior. Seria épico! O mercado se adaptando ao consumidor, se adaptando a um tipo de consumidor que ainda não existe hoje, mas que no futuro poderá surgir e uma nova fatia, com oportunidades de lucro, estará disponível para ser explorada. Seria tolice pensar que isso não é totalmente possível.
Velho e sem opções
Não adianta nada o mundo me dar oportunidades na velhice se eu não estiver mais afim de jogar. Tenho medo do rumo que a indústria está tomando, tenho receio dos tais jogos com abordagens cinematográficas, quando a produtora não se decide se quer lançar um jogo ou se quer lançar um filme interativo. Acho que tem espaço para ambas as abordagens sim, acho que podemos sobreviver com jogos que foquem no gameplay tradicional e jogos voltados aos famosos Quick Time Events. O mercado de games pode seguir com essas opções, mas o problema é quando o consumidor não consegue diferenciar a verdadeira experiencia gamer de um filme interativo, pois caso isso aconteça, teremos uma fase transitória que pode muito bem fundir o universo cinematográfico com o universo gamer. Não acredito que essa seja a melhor opção para o futuro dos games e espero que tudo não passe de um receio infundado da minha parte, mas o fato é que o mercado atual de games está em fase de descoberta, estão tentando decidir qual caminho tomar, para onde os games devem seguir e é claro que será a abordagem que conceder maior lucro e, se olharmos a situação atual, a tal corrida gráfica, onde o foco é somente no visual do game, já podemos perceber que será difícil manter os games com a proposta mais antiga em alta.
Se o mercado seguir esse caminho, será difícil manter meu interesse nos games. Não estou procurando esse nível de interação onde eu apenas tenho que apertar o botão certo, na hora certa e continuar assistindo o resto do tal jogo. Espero sinceramente que isso não aconteça e que o mercado consiga se equilibrar, dando opções de escolha ao jogador. As empresas Indies estão fazendo um belo trabalho e espero que as grandes sigam o mesmo caminho. Na falta de games atuais de qualidade na minha tão planejada velhice, ainda terei o acervo de jogos antigos, os games retros, que servirão de combustível para recordar a era de ouro dos games.
Mantendo a chama acesa
As vezes eu ligo meus vídeo games antigos. Só por prazer mesmo. Montar o mesmo na TV de tubo, assoprar o cartucho do game que jogarei e sentar de pernas cruzadas na frente da TV. Tudo isso gera uma descarga de nostalgia incrivelmente potente em mim, me faz voltar no tempo, quando era criança/adolescente e minhas maiores preocupações estavam em qual jogo alugarei para o final de semana. É claro que isso não faz parte da minha rotina diária, infelizmente, tanto por falta de espaço físico como por falta de tempo, mas sempre que posso eu visito minhas raízes. Isso me faz muito bem. Não estou dizendo que a geração atual não me satisfaça, muito pelo contrário, pois acredito estarmos vivendo na melhor geração de todos os tempos, pois nunca antes tivemos tantas opções de jogos, para todos os públicos, gostos e idades. A geração atual é magnífica e incrivelmente acessível. Mesmo assim eu volto no tempo, não posso evitar, ali eu tenho jogos que carregam emoções da época em que joguei. Jogar Battletoads no NES é relembrar uma época em que eu me dava o luxo de jogar, morrer, voltar a jogar, morrer, decorar cada canto, morrer de novo, voltar a jogar, avançar uma ou duas fases adicionais, morrer e voltar a jogar. Isso era possível na época.
Jogar Streets of Rage 2 no Mega Drive é lembrar o tempo em que eu vi o jogo rodando pela primeira vez na locadora e toda a expectativa em esperar para jogar um dos jogos mais fantásticos da minha vida gamer.
Jogar Super Mario 64 é lembrar do meu falecido avô, na sala de casa, rindo comigo enquanto eu curtia meu Nintendo 64. Estou mantendo a chama acesa. É difícil para algumas pessoas aceitarem que nossas recordações são valiosas o bastante para largarmos um jogo da geração atual e voltarmos a jogar um game antigo. Hoje existe um certo movimento na internet que faz com que o jogador retro seja visto como abandonado, como se sua geração já tivesse passado e isso é triste. Todos envelhecemos e conheço muitos jogadores como eu, retrô, que ainda se divertem com jogos atuais, que viveram e vivem experiencias incríveis com games e que se imaginam envelhecendo, jogando, sem parar. Nós nascemos com o controle na mão, sopramos fitas, limpamos cds, compramos dvd/blu-ray, sabemos o que queremos e não estamos deslocados. Temos prioridades que vão além dos jogos, temos família, trabalho, responsabilidades adicionais, mas quando ligamos nosso vídeo game, quando jogamos online, estamos de igual pra igual.
A velhice é aceitável, espero envelhecer, mas espero continuar jogando o suficiente. Não se admirem se levarem um headshot e ouvirem uma voz mais velha do outro lado dizendo: “Essa foi supimpa!”. O velho aqui está pronto pra abater alguns noobs durante muitos anos ainda e rir muito enquanto se ajeita no sofá pra diminuir a dor nas costas. Você já parou pra pensar no assunto? Não, não estou falando das minhas dores nas costas, estou falando do futuro dos games. Já parou para imaginar como o mercado de games se comportará no futuro e se você ainda estará interessado nos games que serão lançados? A tendência atual, com filmes interativos no lugar dos jogos como atualmente os conhecemos, é o que você espera do futuro? Comente!
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