Review: Black Mirror

Uma das séries mais perturbadoras de todos os tempos. Uma série na qual os “mocinhos” e “heróis” não vão se dar bem. Uma série em que não existe final feliz. Esta série é Black Mirror, um tapa na cara -com luvas de ferro- da sociedade atual.

Black Mirror foi criado por Charlie Brooker, que mostra uma ficção com temas sombrios,  às vezes com um humor negro e possui uma forte crítica contra a sociedade contemporânea e o uso e consequências da tecnologia. Foi produzida pela Zeppotron do seu lançamento em 2011 até 2013, em seguida sendo produzida pela House of Tomorrow. Possui 3 temporadas, e com uma quarta prevista para este ano, que inicialmente era transmitido pelo Channel 4 até 2014, em seguida sendo transmitido pela Netflix até então.

Os episódios são independentes, ou seja, as histórias não tem ligação entre si, a não ser pela tecnologia avançada e o uso excessivo da internet e redes sociais, que dá-se a entender que embora sejam histórias independentes acontecem todas em um mesmo mundo. Um mundo tão parecido com o nosso, com suas vantagens tecnológicas e consequências de seu uso impensado.

Um mundo como o nosso, que as pessoas se alimentam da atenção alheia, buscando sempre querer passar uma “boa” imagem, reputação social e status, no qual na maioria das vezes, não tem semelhança alguma com a real personalidade da pessoa.

O mundo de Black Mirror é este em que vivemos. Tiramos fotos de comida e publicamos nas redes sociais, com o intuito de ganhar likes e comentários positivos; queremos ficar famosos, entrar no mundo das estrelas pelo caminho mais fácil; gostamos de ver a vergonha alheia, sendo amplamente divulgada na internet, até apreciamos o grotesco e bizarro…

Tratamos a internet e o status virtual como nosso pet, nosso querido animalzinho de estimação que muitas das vezes ele cresce se tornando maior  e mais forte que o próprio dono, daí o jogo vira: o dono vira o “animalzinho”, um simples escravo virtual desse mundo sombrio que é a internet, a tecnologia e as vastas redes sociais.

O grande problema mostrado em Black Mirror é exatamente um dos grandes problemas em nossa sociedade atual: o homem. O problema não é a tecnologia, a internet ou as redes sociais em si, mas sim a forma como nós humanos, lidamos com tudo isso.

Valorizamos demais as máquinas, o nosso status no Facebook, nossos grupos no WhatsApp, entre outros, mas nos esquecemos de quem está ao nosso lado, nos esquecemos de nossos próprios irmãos, filhos, esposas dentro de nosso próprio lar; nos esquecemos daquele amigo que as vezes mora até próximo de nossa casa, mas não o visitamos pois temos um grande programa de reality show na TV 4K na sala; esquecemos de visitar ou mostrar afeto aos nossos pais ou avós, pois aquele jogo que foi lançado a pouco tempo não nos deixará de sair da frente do PC ou do vídeo game; nosso carinho e demonstração de amor é simplificado por posts e emoticons virtuais para aqueles queridos que amamos na internet, as vezes, tão queridos que nunca vimos eles e simplesmente o “carinho” é apenas um falso amor querendo em troca belos comentários para nossa reputação virtual aumentar.

Com Black Mirror, podemos sentir nojo de como nós mesmos, em muitas vezes, somos partes e membros dessa bolha ridícula que é a tecnologia excessiva em nosso dia a dia. Sentimo-nos “fortes e melhores” quando explodimos na internet expondo que somente nós estamos com a razão. Aqueles que não tem a mesma opinião ou visão que a nossa, nas redes sociais é chamado de “fanboy” ou “algumacoisaista”, mesmo que a rotulação não tenha nada a ver. Usamos de memes, como um conhecido de “chola mais”, para expor em ridículo outra pessoa. Gargalhamos com a vergonha alheia, ou tiramos fotos e selfies em todos os momentos, desde ir ao banheiro sentado no vaso, até dentro de uma igreja em meio a uma reunião.

Opa! Religião, isso é outro assunto que gera o famoso “rage”, somente a nossa religião / crença / fé está correta, todas as outras estão erradas. Até mesmo quando somos ateus, os religiosos são “um bando de idiotas” que acreditam em fábulas. Minha opinião ou opção sexual tem que ser a supremacia mundial, não queremos ser aceitos e sim sermos a “opção oficial”, queremos impor nossa opção e opinião.

Impressionante é como a série lhe dá um verdadeiro soco no estômago e em seguida lhe aplica um belo chute na cara. A forma que as histórias são contadas são como um verdadeiro conto de terror. Sim, TERROR. Não tem outra explicação para o gênero desta série a não ser uma terrível e verdadeira realidade em que eu e você vivemos e somos suscetíveis a sermos meros peões no xadrez da vida.

A nossa realidade é o fruto dessa ficção ou a ficção é fruto de nossa realidade? Num mundo em que para conquistarmos atenção precisamos de gritar, xingar, agredir, ter o corpo ou o perfil ditado pela mídia, fazer poses e caras sensuais de frente ao espelho (esse espelho negro…) e ter as melhores frases de efeito nas redes sociais, essa “realidade alternativa” de Black Mirror não anda muito longe não.

Quem é você de fato? É alguém que tem certos princípios e acredita nos seus sonhos ou é apenas mais um fruto da mídia? Será você uma pessoa única neste mundo de caos ou somente um robô com programação simulada de um ser humano moderno? Seria você um ser humano que usa a tecnologia ao seu favor ou usa ela para conseguir atenção, amor, prazer, muitas das vezes de forma grotesca. Você está protegido ou exposto pelas redes sociais?

Você tem total controle sobre suas emoções e perfis sociais ou está sendo controlado pelas suas emoções e pela tecnologia em sua volta?

“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Friedrich Nietzsche, Além do Bem e do Mal.

Caminhamos para o caos. Só pensamos em ilusão. Tudo é mentira.

Bem vindo a realidade. Bem vindo ao nosso Black Mirror.

Zanella

Zanella é cristão, marvete, nintendista, fã do Foo Fighters e rpgista. Encontre-o também no nerdprofeta.com