Realismo ou Cartunesco? Há espaço para ambos?
Hoje o que mais vemos nos jogos é a ânsia por gráficos “realistas”. Tudo tem que ser exatamente igual ao que encontramos todo dia, senão o comentário “Ain, desenhadinho, não gosto” já surge na conversa. Mas acreditem: nem sempre foi assim.
Nas era de 8, 16, 32 e 64 bits o que mais tinha era o chamado “jogo de bichinho” ou “jogo de bonequinho”. Mario, Sonic, Bubsy, Aero-The Acro-bat, Sparkster, Rocky Rodent, Alex Kidd, Megaman, Gex, Banjo-Kazooie-Tooie, Donkey Kong e muitos outros dominavam os consoles. E eram jogos muito divertidos (alguns nem tanto, , admito), normalmente com dificuldades que desafiavam e muito os jogadores.
Só que com o aumento da potência dos consoles e consequente melhoria dos gráficos esses carinhas foram ficando de lado e aos poucos um tipo foi tomando espaço: o bombadão-genérico-de-arma-na-mão. Foi praticamente um expurgo, digno dos cavaleiros Jedi caindo nas mãos de Darth Vader. Ouso até dizer que o único “bonequinho” que sobreviveu foi Mario, que até hoje vai muito bem, obrigado. Nem mesmo Sonic teve a mesma sorte, sendo o protagonista de jogos com péssima aceitação. Claro que não foi só por ser um bichinho, é que os jogos eram ruins mesmo.
Mas Fernando, onde você quer chegar com esse blablabla todo?
Bom, hoje o usuário @zufats postou a seguinte imagem no twitter:
Era uma brincadeira onde ele pediu pro seu amigo @rowtendo citar de memória os nomes de todos os personagens de Marvel vs Capcom. Apesar de acertar alguns, é claro que outros palpites foram extremamente bizarros e engraçados (Hatsune Miku eu rolei de rir).
Mas o que mais me chamou atenção na imagem foi a mudança nas características dos personagens. Se antes a Capcom nos brindava com designs como Megaman, Zero, Morrigan, Chun-li, Arthur e Firebrand (só pra citar alguns), hoje ela nos traz “Melvin, Teddy e Angery”. Três personagens praticamente iguais, de franquias de jogos realistas.
Ok, nada errado ter jogos assim, mas hoje há uma situação que pra mim é um misto de necessidade com imposição. A famosa “tendência”.
Pra quem não sabe, tendência é assim: uma montadora de automóveis quer vender carros roxos. Ela diz que “roxo é a tendência”, coloca no mercado e faz o marketing em cima da cor, mesmo sendo horrível. O consumidor vai na loja comprar um carro e tem duas opções: a cor roxa à pronta entrega ou uma cor “normal” que será entregue em 60 dias. Pelo prazo, o consumidor acaba escolhendo o roxo, e logo temos uma enxurrada de carros de cores bizarras nas ruas. Aí ela vem e diz “viu, a tendência era essa mesma”, quando na verdade não passava de falta de opção.
Você cria um problema, traz uma solução ao mesmo tempo e todo mundo fica feliz achando que realmente queria aquilo. É mais ou menos como eu vejo o mercado de games hoje: a oferta de jogos de tiro faz com que pareça que realmente é isso que o consumidor quer, quando muitos acabaram se acostumando a jogar isso e logicamente vão querer sempre mais e mais.
Cada vez mais jogos realistas são lançados, e quando sai algo colorido e desenhadinho a maioria já torce o nariz cobrando realismo. Foi assim com Breath of the Wild, por exemplo, que apesar de ser lindo não evitou comentários de “Nintendo é assim, tudo desenhadinho, no Play 3 já era mais realista”.
Até mesmo as capas de jogos são cada vez mais parecidas, como podemos ver em alguns exemplos abaixo:
Há um tempo atrás na ilha do sol no grupo do portal até rolou uma brincadeira de como fazer uma caixa padrão de jogo atualmente:
E no meio disso, enquanto as grandes desenvolvedoras optam pelo caminho mais fácil, os indies nos trazem jogos lindos e bem trabalhados, por mais simples que sejam. A liberdade criativa nos traz pérolas que remetem aos jogos antigos (Yooka-Laylee, por exemplo), e isso é um sopro de vida em um meio cada vez mais saturado.
Antes que digam “mas existem jogos diferentes”. Sim, eu sei disso, mas o que cito aqui é a maioria dos lançamentos das grandes empresas atualmente e como o mercado foi saturando de jogos do estilo. E que a justiça seja feita: na época dos jogos de plataforma também tivemos esse problema, mas pelo menos havia o cuidado de criar personagens diferentes. Hoje bota um fortão genérico e já era, é muito mais simples e toma menos tempo.
E também faço questão de dizer: eu gosto de jogos de tiro, hack n’ slash e afins. Mas não quero ter um console que depende só disso (e Fifa, que também tá cada vez mais realista e chato, mas não vou entrar nesse mérito), senão vou morrer de tédio e com um console empoeirando na prateleira.
A questão é: ainda existe espaço para jogos desenhadinhos ou teremos que nos contentar cada vez mais com o realismo?
Quem sabe um dia um Mario realista?
Hmm, não foi uma boa ideia…