No Modo Automático – Um Perigo Real

Games e família são assuntos que rendem diversão, horas de bate papo descontraído e, dependendo do caso, rola até uma prisão por pensão alimentícia. A união dessas duas categorias poderia muito bem aparecer em uma série na TV a cabo ou mesmo ser objeto de pesquisa em um desses canais interativos que trazem curiosidades engraçadas sobre coisas que você sequer cogitou investigar, como o fato das moscas domésticas viverem apenas duas semanas. (Particularmente acho duas semanas muito tempo para uma mosca viver, então que não cruzem meu caminho!). Irmãos já lutaram bravamente lado a lado durante horas de gameplay cooperativo e relacionamentos foram construídos durante o uso indiscriminado de fichas no fliperama do Shopping Center mais próximo ou no uso indevido de Mario Party.

Os games são como pontos de ligação entre as pessoas, e é claro que existem os que podem facilmente causar uma terceira guerra mundial, tal como o modo cooperativo de Battletoads, onde você tenta acertar o inimigo e acaba atingindo seu parceiro, que ao levar esse golpe muda instantaneamente de lado e assume o papel de inimigo mortal e vocês lutam um contra o outro até que as suas vidas se acabem. Mas fora os poucos casos de agressões nos fliperamas e brigas generalizadas em locadoras, os games mais ajudam do que atrapalham. Porém, hoje resolvi trazer a tona um caso especifico, onde eu ainda não descobri se a culpa é minha ou dos jogos.

HOMEM-CACADOR

Tudo começou há muito tempo atrás, na pré-história para ser mais exato. Fique tranquilo, ainda não comecei minha história, sou velho, mas nem tanto. O homem sempre se mostrou uma criatura mais focada em um assunto por vez, ao passo que a mulher tende a ser multitarefa, ou seja, muito mais competente em manter diversas tarefas simultaneamente em curso. Para resumir essa parte vou usar a citação da Antropóloga Helen Fisher em uma entrevista para a revista ISTOÉ edição 1536 de 10 de Março de 1999. Ao falar da diferença entre os sexos, em referencia ao seu livro Guerra dos Sexos, Helen é instigada a comentar sobre a capacidade de concentração do homem, conforme abaixo:

 “São mais focados. Eles compartimentam o meio ambiente e são mais propensos a fazer as coisas passo a passo. Um clássico comportamento do homem – que virou motivo de piadas em cartuns – é o do sujeito lendo jornal que não escuta nada daquilo que a mulher está lhe falando.

As mulheres pensam imediatamente que o homem é grosseiro. O problema é que os homens são mais focados: quando eles lêem jornal, eles apenas lêem jornal, e fim de papo. As mulheres é que gostam de fazer tudo ao mesmo tempo. Isso foi desenvolvido desde a pré-história. Mulher é melhor em múltiplas tarefas porque ela foi programada para isso. Afinal, criar um bebê é estar constantemente ativa em vários campos. Já a maior tarefa do homem era focar naquela zebra ou mamute e matar o bicho. O homem é o caçador, ou ele presta muita atenção no animal ou o animal o come. Está provado, por exemplo, que homens notam mais pontos geográficos de referência. Esta é herança do caçador.”

Fonte: Revista Isto é

Isso explica tudo o que apresentarei a seguir. Ou não.

Modo Automático On

Estava eu jogando Call of Duty na sala de casa, com minha esposa lixando suas unhas ao meu lado. Na tela um tiroteio infernal. O Rá-ta-ta-tá da minha metralhadora varrendo o cenário, vários gritos, mortes e uma granada na mão, doidinha pra explodir. Depois de uma longa “conversa” com minha esposa, regada de muitos “sim” e “Aham”, ela me dá um beijo e, sorrindo, me agradece: “Obrigado amor, você é o melhor Marido do mundo”. Um sorriso orgulhoso escapa de meus lábios. Ela se levanta do sofá, pega a chave do carro e sai da sala toda alegre. E é nesse momento que eu aperto o PAUSE! Um ponto de interrogação surge bem no meio da minha testa, enrugada de tanta dúvida. Eu abaixo meu olhar e permaneço imóvel. Somente eu e minha respiração. As aulas de Ioga fazendo valer seu preço. Escuto o barulho do carro ligando e saindo devagar, mas ainda sem conseguir me mexer sinto um calafrio que percorre meu corpo enquanto o tic tac do relógio parece estar dentro da minha cabeça. Uma coçada generosa nas partes baixas me traz de volta ao mundo real.

Caramba! O que foi que eu disse para essa mulher!?”

Imediatamente eu pego o celular, que como sempre está sem bateria. Procuro o carregador numa corrida frenética dentro de casa. Ligo na tomada e aperto desesperadamente o botão Power. Uma gota de suor escorre pela minha testa. O que foi que eu fiz!? Enfim, o celular ligou, agora é só discar e pronto: “Sua chamada está sendo encaminhada para caixa de mensagens…”.
Corro para pegar minha carteira na esperança de encontrá-la intacta, com TODOS os meus cartões de crédito, mas nem a maldita carteira eu encontro… agora é tarde. Ligo os pontos e aceito o meu destino. Tenho que esperar minha esposa voltar e novamente explicar pra ela que quando estou jogando não se deve fazer pergunta difícil, comprometedora e muito menos pedir pra comprar UM VESTIDO NOVO DE FUCKING R$ 1.250,00!!!

falencia

Acabou, voltei para a jogatina. Cercado de todos os lados, minha metralhadora emudeceu. Lembrei que eu ainda tinha a maldita granada. Pensei em tudo que se passou nesses últimos 5 minutos, o futuro prejuízo que isso iria me custar e puxei o pino. Que inveja desse soldado, logo logo ele vai pelos ares com a explosão da granada, mas ele volta vivinho para o último save point. A vida seria mais fácil se houvesse save point ou pelo menos um maldito password. Pra mim não tem mais volta, o banco não aceita explicações, meu gerente não quer saber se foi o jogo que me hipnotizou de novo e tenho a sensação de que minha esposa sabe exatamente o que está fazendo. Entrar no modo automático é um perigo e deveria existir um botão para desativar essa maldição.

Oportunismo e o Submundo

 

Sério, o perigo não está somente na minha sala ou com meu cartão de crédito, isso é algo realmente avassalador, quase tão importante quanto uma ameaça global. Mesmo as pessoas que não jogam, sim, mesmo estes poucos seres, estão em perigo, pois é só a criatura começar a fazer algo que realmente goste, um passatempo qualquer, que o cérebro tende a entrar no modo automático e aí ferrou, prepare seu bolso que as consequências podem ser catastróficas. Se esse tipo de informação chegar aos lideres do crime organizado estaremos perdidos! Os fliperamas não serão mais seguros! Imagine você jogando tranquilamente uma partida de Street Fighter 2 no fliperama perto de sua casa, com mais 12 fichas no cinzeiro da máquina esperando os possíveis continues que aparecerão na luta contra o apelão do Sagat. Tudo corre bem, você está perdendo conforme o planejado, mas não conseguiu perceber o sumiço de suas fichas, pois você estava no maldito modo automático e agora procura desesperadamente o tal ladrão entre uma multidão de nerds. A contagem regressiva, com a cara amassada do Ken na tela do Arcade, já começou!

10 você envia um olhar semicerrado para o suspeito: Um cara vestido de Pikachu,

9 o cara de Pikachu devolve o olhar,

8 pinta um clima,

você disfarça e olha fixamente para o monitor do Arcade tentando esquecer o clima que rolou

6 o cara de Pikachu se aproxima

5,4,3,2,1 você aperta os botões do fliperama para acelerar a contagem regressiva na intenção de deixar suas iniciais antes de sumir desse maldito fliperama

0 o cara de Pikachu te dá um “oi” e agora ferrou, se vira, é com você.

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Maldito Sagat! Maldito modo automático! Maldito Crime Organizado que faz Cosplay! Não achou tão ruim? A situação ainda pode piorar: Imagine você jogando tranquilamente uma partida de Street Fighter no fliperama perto de sua casa, concentrado para emendar aquele Shoryureppa que eliminará o adversário. Terminada a luta você sente aquele famoso tapinha nas costas, de um cara que surge do nada, com um sorriso malicioso que te traz de volta para o mundo real. Ele se despede e você percebe que sua calça está na canela. Não, não a calça dele, é a sua calça que está na sua canela! Caramba! O que aconteceu aqui!? Você nunca saberá. E se souber, você vai rezar para que ninguém mais saiba, mas se souberem, você vai torcer para que eles tenham passado pelo mesmo para criar um circulo de confiança onde todos manterão esse segredo. Não acham isso perigoso? Não? Pois pode piorar.

Imagine você jogando Street Fighter no fliperama perto da sua casa. Hã!? Como assim “Cade minha casa?”!? Putz. É… já foi também. Viu só!? Piorou né? Esses caras não tem limite, o crime organizado está tão organizado que às vezes eu paro de digitar só pra dar aquela olhada em volta, pra ver se não levaram nada enquanto eu digitava. Eles estão tão organizados que hoje você precisa pegar fila em RH pra deixar curriculum se planeja entrar para o submundo.

Solução Provisória

Chega de falar do crime organizado antes que eles tirem nosso site do ar, vamos voltar ao assunto. O que nós precisamos mesmo é de um dispositivo avançado que nos auxilie quando entramos no modo automático. Temos um problema e precisamos de uma solução. Quem sabe um aplicativo no celular, nesses celulares modernos, que fazem tudo e às vezes até tem sinal para quem quiser fazer uma ligação. Por que não um Uat Zap funcional, onde a pessoa que fala contigo precisa passar por um filtro quando você estiver no modo automático? A pessa fala contigo, mas o celular te paralisa por completo, onde primeiramente seu cérebro captará a informação e perceberá o perigo da situação, porém, por estar muito ocupado jogando, enviará uma mensagem telepática para o celular que acionará uma sirene alta o suficiente com um grito de “Acorda mané” para te tirar do modo automático e assim você terá duas opções:

  1. Erguer o dedo polegar, concordando com o que foi dito e continuar jogando;
  2. Erguer o dedo médio, discordando do que foi dito e continuar jogando;

Isso tudo se você não estiver jogando online, pois não tem como pausar o jogo durante uma partida online, será que é tão difícil entender isso mãe!?!?!?!? Desculpe o desabafo, te amo mãe.

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Enfim, não é fácil voltar ao mundo real quando estamos entretidos jogando nossos games, principalmente quando esse game extrai de você cada gota de nostalgia que transpira ao avançarmos pelos mundos fantasiosos da era de ouro. É importante que cada pessoa assuma os riscos envolvidos no processo e, se conseguir criar uma maneira eficaz de evitar prejuízos durante as jogatinas, que compartilhe conosco, pois ser gamer no Brasil não é nada barato e quando eu digo isso eu estou olhando pra você, “maldito vestido de R$ 1.250,00”, que não sai da minha fatura. Gostaria de deixar claro que todas as situações citadas nesse artigo são hipotéticas, não existiram na vida real e se existiram, não foram comigo, mas se fossem mesmo comigo, eu negaria! Eu sempre sonhei em passar uma mensagem de vida em pelo menos um dos meus artigos, mas até agora não tive capacidade intelectual para criar algo realmente importante, então vou tentar algo aqui mesmo:  (leia com voz de radialista que apresenta programas de encontro para pessoas encalhadas): Espero que você, caro leitor solitário, encontre sim o seu amado “Pikachu” nos fliperamas da vida e que seja feliz, cuidando para que o modo automático seja apenas um termo diferente para aqueles momentos em que nosso cérebro trabalha para fugir daquilo que o trabalho nos infringiu durante o dia inteiro.

Se você gostou desse artigo, então provavelmente você ainda deve estar no modo automático e, se tudo der certo, fará um depósito em dinheiro na minha conta corrente. Please Understand: Preciso pagar esse vestido. (Se tivesse acontecido comigo, é claro…)

Visio

Criador da marca 2join, ama os games!