Adeus Lazarus, Bem-Vindo Pegasus – Construindo um Novo PC Retro Gamer
Fala galera! Beleza? Este é mais daqueles meus textos onde compartilho experiências pessoais, minhas aventuras de colecionador. Desta vez trago a vocês a saga que narra a montagem do meu novo PC Retro Gamer. Como sempre digo, espero que apreciem! =D
CONTEXTUALIZANDO…
Para quem acompanha meus textos aqui no portal ou no blog Gamer Desconstrutor, Lazarus já uma figura bem conhecida de vocês. Para quem não conhece, convido a ler os textos Papo de Colecionador IV – A difícil procura por games antigos de PC – Parte III e mais especificamente Lazarus – Meu PC Retro Gamer que escrevi para o blog GamerDesconstrutor. Resumidamente, Lazarus é um PC Retro Gamer que montei ao longo de 03 anos especialmente para jogar games antigos de Windows / MS-DOS dos Anos 80 e 90. Foi uma experiência incrível, (inteiramente descrita nos textos), ao mesmo tempo que foi desafiadora, às vezes frustrante, haja visto o pouco recurso que tinha na época, a escassez de componentes e peças em bom estado, sem falar na caça a exemplares originais de jogos… Mas foi uma experiência muito prazerosa, ainda mais depois que o PC Retro Gamer estava completo!
Porém algo deu errado e a máquina, batizada com o nome em homenagem a maior, mais ambiciosa e sem igual invenção do Dr. J.T. McFadden parece ter decidido seguir o caminho que o seu nome traz em seu significado…
DESLIGAMENTO DE LAZARUS
De repente, sem mais nem menos, uma tarde fui liga-lo para jogar… Nada. Tentei uma, duas, cinco vezes. Nada. A fonte ligou, exaustor do gabinete ligou, dissipador do processador esquentou (este modelo não possui ventoinha), HD ligou… Porém só tela preta. Nada de boot. Infelizmente não pude fazer nada. Placa-mãe quando dá defeito… Ainda mais aquelas da linha Presario da Compaq, únicas. Sem opção, apenas removi o gabinete do Collection Room e o guardei no porão. num espaço adequado, limpo e sem umidade. Um dia, como fez quando veio a mim, mais uma vez, ele pode voltar a prolongar seus dias de glória… =(
PROJETO PEGASUS
Montar uma máquina substituta seria uma tarefa mais simples que quando montei Lazarus já que, desta vez, precisava apenas de um novo gabinete e seus componentes.
A primeira coisa que fiz foi tentar com um dos vários PCs que tenho guardados no porão. No meu texto Papo de Colecionador IV: A difícil procura por games antigos de PC – Parte III para o blog GamerDesconstrutor eu descrevo como reuni mais de 08 PCs completos descartados, além de caixas cheias de peças. Entretanto, dentre essas máquinas descartadas, PCs antigos dos anos 90, apenas dois. Um mais antigo, modelo de 1995, Pentium MMX. Outro um modelo de 1999.
Tentando com o primeiro, o Pentium MMX, de cara já não deu certo. Ele liga mas não dá tela. Mesmo defeito do Lazarus. Já o segundo era apenas um gabinete com uma placa-mãe com Soquete 370. E considerei “novo” demais para o propósito. Eu gostaria que fosse outro Pentium II ou ainda anterior. Desta forma a única solução seria partir à caça de um gabinete que atendesse a minha expectativa.
A PROCURA DE UM PC DE 25 ANOS
Durante dias procurei diariamente anúncios no MercadoLivre e na OLX de PCs antigos que estivessem pelo menos num estado aceitável de conservação. Encontrei de tudo, mas nada que valesse à pena. Ou eram PCs completos em estado soberbo de conservação custando mais que PC Gamer parrudo, ou eram gabinetes saídos do lixão que só de olhar para as fotos você pegava tétano. Os meios-termos entre esses dois extremos até existiam, um e outro, mas estavam longe demais e o frete custaria o dobro do preço do aparelho. Mesma coisa na OLX. Exceto que depois de 02 semanas apareceu um anúncio bem interessante…
Um senhor estava vendendo um PC completo por menos de R$100,00! Estava encardido é claro, mas pelas fotos estava inteiro e em perfeito funcionamento. E o melhor: na cidade vizinha. Depois de uma semana trocando mensagens, combinamos o dia e hora para ir buscar minha “nova” máquina.
Sábado ensolarado, céu lindamente azul, peguei o Fuscão, a gata, a caixa de som bluetooth, minha playlist de Anos 80 no Spotify, e 40 minutos de pura estrada. Tentem imaginar que cena linda! Não era só uma compra. Era um passeio completo. E de Fusca. Qualquer coisa é desculpa para pegar o Fusca e dirigir! =D
RESTAURAÇÃO DO PENTIUM MMX
Chegamos no destino, pegamos a máquina, tudo certinho, bora pra casa para um fim de tarde de restauração. O monitor, teclado, mouse, caixas de som, microfone e sacola de peças foram todos para o porão. Desses eu não precisaria de nada. Desmontei o gabinete inteiro, desmontei a fonte, ventoinhas, juntei a lata de limpa-contatos, escova de dentes usada, flanela, seringa de pasta térmica, estilete, chaves Philips e lanterninha. E foi um maravilhoso entardecer de trabalho de restauração meticuloso. Não sobrou grão de poeira, molécula de sujeira no gabinete e nas peças! Fico até orgulhoso de contar! ;D
Pois bem. Tudo limpo, tudo pronto, bora formatar essa belezinha! Primeira frustração. Ambos os HDs dele estavam corrompidos. Tudo bem, tenho uma caixa com mais de 10 HDs antigos. Escolhi “o mais bonito” que combinaria com o gabinete. Formatação completa, agora era hora de instalar o último componente que faltava para completar tudo… O componente que define o “gamer” do termo “PC Retro Gamer“…
Entre placas-mãe, processadores, memórias RAM, placas de som e multimídia eu tenho 04 placas aceleradoras 3D. Todas da década de 90: Trident Blade 3D, 03 Ati Rage 128 e uma outra Ati com barramento AGP que não consegui determinar o modelo.
É claro que tentei primeiro com uma das Ati Rage! Porém, infelizmente não consegui fazê-la funcionar. O sistema não a reconhecia de jeito nenhum. E não era por falta de driver. Frustração à parte, a Trident Blade 3D funcionou perfeitamente. Porém, infelizmente, ela é limitada demais para jogar qualquer coisa um pouco mais sofisticada, como um dos meus games favoritos, Tomb Raider 2. Assim sendo, se eu quisesse jogar os principais jogos que amo até hoje de PC da infância, precisaria montar um PC Retro Gamer um pouco mais moderno. Já imaginam o que fiz, né? =D
DOIS PEGASUS
Lá fui eu trazer do porão aquele outro gabinete dos Anos 90 que eu havia descartado para o Projeto Pegasus num primeiro momento. O gabinete Macron, modelo comercializado em 1998/1999 já tinha mais a cara dos primeiros PCs do início dos Anos 2000. Sua placa-mãe é para processadores Pentium III (ou “Pentium!!!“, tal qual sua logomarca ilustrava). Para este segundo PC, que no fim das contas é um projeto diferente do primeiro, chamaremos de Pegasus Macron, ao passo que o anterior será Pegasus MMX.
Este chegou até mim muito bem conservado, inclusive com etiquetas da loja que o comercializou afixadas e intactas. Nenhuma marca de ferrugem, nenhum risquinho sequer em suas tampas. Estava apenas encardido…
RESTAURAÇÃO DO PEGASUS “MACRON”
Outro final-de-semana, outro sábado ensolarado, Heineken, material de limpeza, jogos de chaves, caixinha bluetooth e mais uma ótima tarde restauração. Eu descrevo desta forma porque gosto deste trabalho. Muito mais que apenas formatar e entupir de jogos, para mim a limpeza, restauro e montagem fazem parte do prazer de trazer uma máquina dessas de volta e faz parte da diversão. ;D
Tudo limpo, escolhi os cabos flat que estavam mais novinhos para ele, a unidade de disquete com a parte frontal mais branquinha, uma unidade de CD-ROM de 52x, também a menos amarelada, o HD, apliquei pasta-térmica no processador e montei o dissipador com o cooler mais bem conservado que dispunha, 01 placa de memória RAM DIMM Itautec 128MB remanescente de um antigo PC de banco, bateria novinha em folha para a placa-mãe… E por último a placa de vídeo, agora sim, a lendária Ati Rage 128! Ela é o que dá calibre para toda essa máquina!
FORMATAÇÃO E SOFTWARES
Tudo montado, configurações da BIOS feitas, unidades reconhecidas, chegou a hora mais divertida. Disco de inicialização do Windows 98 rodando, particionei o HD, formatei, Microsoft Windows 98 SE dando vida ao conjunto. Tudo OK, bora instalar os programas!
- Microsoft Plus! 98, para desfrutar todos aqueles temas diferentes, o CD Player Deluxe, Solitaire Spider, Lose Your Marbles (que é um jogo da SEGA Soft, sub-divisão da SEGA nos Anos 90 para jogos e softwares para PC);
- Microsoft Office 2000, por puro saudosismo, para escrever minhas estórias e ficções que eu salvo em disquetes e para matar a saudade dos ancestrais da Cortana (OK, na verdade o ancestral da Cortana é o Microsoft Bob, mas isso será assunto para outro texto);
- Winamp! Sim, o lendário e inesquecível Winamp!, personalizado com minhas skins que tenho guardadas por muitos anos com muito carinho, junto com muitas outras memorabilias virtuais;
- Encarta 96, enciclopédia interativa virtual, bastante completa, item que faz parte da caixa de presentes que um amigo leitor me mandou. Este tipo de software representa bem como eram os tempos antes da popularização da internet;
- WinRAR. Preciso dizer alguma coisa?!
Esses programas enriquecem a experiência de se usar um PC antigo, pois reproduzem o ecossistema da época.
ENFIM, OS GAMES
Agora sim! Tudo instalado, devidamente configurado, resolução de vídeo ajustada, som funcionando, chegou a hora de instalar os jogos.
Ao longo desses 18 anos colecionando videogames antigos sempre considerei os jogos de PC antigos como parte da coleção, ao lado dos jogos de console. Tive contato com PC na mesma época que com videogames, e o desejo de ter certos jogos da infância em seu formato original é tão grande e fundamental quanto os jogos de videogame. Isso está bem detalhado no meu texto Papo de Colecionador IV: A difícil procura por games antigos de PC – Parte II . Dos jogos de PC que disponho na coleção, estes são os que instalei por primeiro:
- Prince Of Persia;
- Prince Of Persia 2: The Shadow And The Flame;
- Need For Speed 2 Special Edition;
- SimCity 2000 Deluxe Edition;
- Tomb Raider 2: The Dagger Of Xian;
- Carmageddon;
- Duke Nuken 3D Atomic Edition;
- Shadow Warrior;
- Incidente Em Varginha;
- Street Rod Special Edition.
Estes são os jogos que NUNCA deixo de jogar no PC e valem todo o esforço de trazer uma máquina de mais ou menos 25 anos de volta à vida. Estes e muitos outros, é claro! Ainda tenho vários outros jogos no acervo, que vou instalando e curtindo conforme for batendo saudades. E tem alguns outros que ainda vou somar à coleção.
SOLUÇÕES ATUAIS PARA O WINDOWS 98
CCleaner. O que, CCleaner?! Claro! Até a versão 3.xx a Piriform disponibilizava o utilitário para o Win98. E até o momento não encontrei melhor ferramenta para limpar arquivos temporários e erros de registro para o SO, especialmente o segundo quesito.
Unofficial USB Disk Drive. Suíte de drivers criada em parceria entre vários entusiastas do retro-computing que instala, configura, reconhece e possibilita utilizar pendrives como unidades plug-and-play de disco nos Windows 95, 98, 2000 e ME. Leve em conta que o padrão USB foi criado ainda nos Anos 90, sendo um drive vendido separadamente num primeiro momento e depois, da metade para o final da década, incorporado às placas-mãe. Como a comunicação entre uma máquina moderna e uma antiga pode ser uma barreira (eu não instalei leitor de CD/DVD no meu PC Gamer moderno), e mesmo que não seja ficar gravando CD-RW toda hora despende um certo esforço, atualizar a interface de disco secundário não é uma má ideia, ainda mais porque não tira a originalidade do equipamento.
RESULTADO FINAL
Quarenta dias. Centenas de horas do Projeto Pegasus distribuídos entre procura, pesquisa, manutenção, restauro, montagem, configuração e instalação… E o mais importante: vislumbre. Cada uma dessas horas valeu à pena! O Pegasus está lindo, completamente restaurado, funcionando perfeitamente e arrancando sorrisos a cada barulho do braço do HD ou do leitor de disquete!
Testando os jogos, principalmente Tomb Raider 2 roda liso, perfeito. Melhor, inclusive, que rodava o Lazarus. A transição do Pentium II para o III fez uma boa diferença. Os temas de alta resolução do Windows Plus! 98 eram um problema antes. Agora já não são mais. O tempo de inicialização, entre a tela de boot à Área de Trabalho (carregando a barra lateral do Office, um dos gargalos na inicialização do Windows no Lazarus) leva ao todo 15 segundos, o que para um PC de 20 anos rodando peças usadas por mais de década e estocadas de qualquer jeito até chegarem em minhas mãos é um tempo muito bom e demostra a plena saúde do conjunto. O tempo de inicialização as aplicações Office (Word, Excel e PowerPoint) é de 03 segundos apenas, enquanto que antes era de mais de 10 segundos! Tudo perfeito, certo? Quase…
Curiosamente um dos jogos que eu tinha certeza que rodaria lindamente, quem diria, não funcionou bem. Claw, ou Captain Claw, adventure side-scrolling 2D no melhor estilo 16 bits, portanto uma baba para um placa de vídeo como a Ati Rage 128, rodou todo travado, dando câmera lenta quando qualquer outra coisa que se mexia na tela surgia! Leve em conta que no Lazarus este jogo, um dos meus favoritos inclusive, rodava, rápido, fluído e preciso. O que poderia ser o problema, então?
O vídeo do Lazarus era uma chip Ati Rage 3D onboard, com expansão para mais VRAM, que nele estava com uma plaquinha de apenas 2MB. No Pegasus é uma placa de vídeo dedicada, Ati Rage 128 Xpert, de 16MB de VRAM. A causa disso, imaginei inicialmente, seria a baixa memória RAM da placa de vídeo. Porém, como pode-se ver nas specs de ambos os casos, não poderia ser isso.
No momento acredito que o vídeo onboard da placa-mãe do Lazarus conte com um co-processador de vídeo 2D, com a VRAM expandida naquela plaquinha. Solução essa não presente na placa de vídeo do Pegasus. É importante frisar que o processamento de vídeo 2D e 3D são bem diferentes. Essa diferença pode ser observada comparando o Playstation e o Sega Saturn. Enquanto no PSX jogos 3D rodam fluídos e suaves, no Saturn são os jogos 2D que se destacam em desempenho, um dando lavada no outro em sua vantagem. No caso do Saturn parte da causa é a memória RAM maior que no PSX. Não sei dizer qual é o segundo ponto que está fazendo diferença no meu caso. Enfim, a restauração do PC foi tão boa que até trouxe um capítulo da história dos games junto! XD
COMO DESFRUTO DO PC RETRO GAMER
A minha experiência ao usar o Pegasus é completa e reproduz o que eu experimentei lá nos Anos 90. Além dos jogos propriamente ditos, gosto de usa-lo como um computador propriamente dito.
Adoro ir até o raque, escolher um CD, colocar para tocar e ficar cantarolando as músicas lendo nos encartes. Dedico umas horas do fim-de-semana especialmente para isso. Por isso mesmo é fácil me encontrar em sebos comprando CDs até hoje.
Gosto de escrever estórias, pensamentos e ideias, como mencionei antes, e os faço todos no Word do Office 2000 no Pegasus. E é claro que com o Clipper, o Einstein e o Dog (os meus três assistentes do Office favoritos) ali, metendo o bedelho e sugerindo coisas! E salvo tudo em disquetes. Em meu acervo da coleção disponho de caixas e mais caixas de disquetes, algumas inclusive lacradas, a maioria novas, e faço questão de manter esse hábito de usá-los. E não. Até agora nenhum disquete corrompeu ou “desgravou”.
UM ÚLTIMO DETALHE
Por puro capricho e para tornar a restauração ainda mais fiel e “bonita” decidi colar decalques no gabinete. Não qualquer decalque, óbvio, mas os que ele teria quando saiu da loja lá em 1998 / 1999. Nesse meio tempo, indo a mais um encontro da 2Join, conheci o dono da loja de games Space Tech’s, daqui de Curitiba. Gente finíssima, além de vender games novos e antigos a preços justos, oferece o serviço de relabel para cartuchos de diferentes consoles e épocas. Como me surpreendi com a qualidade de seu trabalho, conversando pelo WhatsApp, encomendei dele os decalques. Difícil foi achar as logomarcas na internet com o mínimo de resolução aceitável, e foi aí que atestei mais uma vez o excelente trabalho do cara. Ele confeccionou os decalques e me entregou no primeiro encontro da 2Join de 2018. Perfeitos! Apesar e muito pequenos, eles estão com ótima resolução, impressão de muito boa qualidade. E o papel plastificado os deixaram ainda mais fiéis os antigos decalques de fábrica. Ao colá-los ainda percebi que fixam muito bem, mas são de um tipo de papel adesivo que você pode descolar e colar para lá e para cá até achar a posição perfeita. E o resultado final está aí.
CONCLUSÃO
Montar um PC Retro Gamer do zero, mais uma vez, foi uma experiência muito gratificante! A caça pelas peças, por um outro computador, o contato com os proprietários, o passeio de Fusca, as idas e vindas do porão, a seleção das peças, a limpeza, a montagem, formatação, tudo! É como o prazer de se restaurar um carro antigo. Pegar uma máquina velha, esquecida e abandonada e trazê-la de volta a vida, colocá-la de volta em um espaço especialmente arrumado para ela, usá-la como foi usada há muitos anos novamente, em todo o seu potencial, é uma experiência que completa toda a diversão. Valorizar um artefato que trouxe muitos momentos importantes para a vida das pessoas é fazer a História ser experimentada na vida real.
Um vício delicioso, com calda de lembranças e sabor de nostalgia.