Atari Jaguar: minhas impressões e crítica contra os haters
Em abril de 2016 atingi um dos meus maiores objetivos como colecionador de videogames antigos: somei um Atari Jaguar a meu acervo, como podem conferir nesta postagem no Retro-Gamers Brasil, tradicionalíssima comunidade do Google+, clicando neste link.
Agora faz 08 meses que estou desfrutando do console com estes 06 jogos, adquiridos junto com ele: Wolfenstein 3D, Evolution: Dino Dudes, Trevor McFur In The Crescent Galaxy, Cybermorph, Kasumi Ninja e Theme Park.
Então, o que posso dizer do Jaguar, afinal? Que ele realmente é uma merd*? Que ele é um lixo? Controle é uma bost*? Muito pelo contrário…
O CONSOLE
O Atari Jaguar é um ótimo videogame. Pelo menos nestes jogos não vi nenhum loading, nem lentidão. Eu sempre achei que ele fosse dual core (com 02 processadores de 32 bits que somados dariam os ditos 64 bits dele), mas a verdade é que é penta core. São nada menos que 05 processadores: 02 de 64 bits + 02 de 32 bits + 01 de 16 bits. Se você fizer as contas, ele teria “208 bits”. E quando está ligado, mesmo depois de 02 horas jogando continuamente, a fonte mal esquentou.
O CONTROLE
O controle do Jaguar é grande, anatômico e se encaixa perfeitamente nas mãos. É muito confortável de se jogar, mesmo que por horas. Embaixo ele é arredondado, tal qual o controle de Playstation seria 02 anos depois. Os botões são de acionamento suave, mas preciso. Você não aperta um botão em falso.
E quanto ao teclado de telefone dele? Um elemento que todo mundo critica, não sei por que. Jogando Wolfenstein 3D e depois que você aprende o que cada “teclinha” faz, usar o tecladinho durante a partida é estranhamente natural. No começo você precisa olhar para o controle para saber onde apertar, mas aos poucos você se acostuma e passa usá-lo de forma fluída, como você faz com o seu teclado do computador.
Portanto posso afirmar com veemência: o controle é bom, é confortável e o teclado numérico não é um problema.
OS JOGOS
Podem procurar onde quiser: Wolfenstein 3D do Atari Jaguar é aclamado como a melhor versão do título, considerado, inclusive, superior ao original, lançado para MS-DOS. Também pudera: os gráfico estão bem polidos, bonitos, coloridos, a movimentação é ótima, o som e as músicas ficaram boas, os sprites são mais refinados… E o jogo roda nativamente a 60fps! Isso mesmo: 60fps! Se jogar no AV então, a definição e movimentação dos quadros é bastante suave (estou jogando no RF).
Destes jogos que eu disponho, Cybermorph, Trevor McFur In The Crescent Galaxy e Evolution: Dino Dudes fazem parte dos 05 games de estréia do console. Naturalmente que eles não usam todo o potencial dele. Aliás, nenhum game de sua biblioteca usa. Mas nem por isso são todos ruins.
Cybermorph tem uma boa ideia. Ele foi a resposta da Atari para Star Fox do SNES que saiu na mesma época. E não posso dizer que o jogo é de todo ruim: você pode controlar sua nave por um ambiente realmente 3D e livremente, sem estar preso a “um trilho”. Você pode alternar a visão para primeira pessoa para tiros mais precisos, voar para trás “de marcha a ré”, parar no ar, enfim. Os cenários são grandes, os inimigos são chatos de derrubar e o desafio é considerável.
Trevor McFur In The Crescent Galaxy é um game ao estilo R-Type, de “navinha” sidescrolling. De cara você já vê o capricho nos gráficos. O desafio é grande, você dispõe de um arsenal de armas especiais que pode acionar à vontade (cada uma em um botão própria no teclado numérico), além de pegar muitos power-ups que aperfeiçoam sua arma principal e velocidade. E ainda, se estiver mandando bem, surge uma nave de apoio para quebrar tudo com você. É tiro, monstros meio-mecha-meio-demônio-meio-seres-mitológicos para todo lado entupindo a tela! Aqui ter reflexo felino é essencial.
Evolution: Dino Dudes é um game de estratégia muito bacana, que lembra bem vagamente o clássico e premiado Lemmings. Aqui você tem uma pequena tribo de homens das cavernas em um grande cenário. O objetivo é conduzi-los até uma saída. Você controla um a um, alternando entre eles. No cenário haverão itens, como lanças, que você precisa pegar e usar. E os itens podem ser usados de diferentes maneiras. Parece fácil, mas o desafio nas 80 fases é cada vez maior e achar a forma perfeita de vencer os obstáculos é a grande graça do jogo, que possui uma ótima trilha sonora, aliás.
Kasumi Ninja… Esse é uma lenda, sempre lembrado como um dos piores games de luta da História, kkkkkk. Mas não é beeem assim, não. O jogo é um “MK derivado”, concebido com as mesmas técnicas de captura de imagens e movimento do premiado título da Midway. Só que a intenção dele é ser uma sátira. Ele brinca com diversos conceitos consagrados e comuns aos jogos de luta da época.
O conceito de alguns personagens é fora do convencional. O visual deles também é fora do convencional. Os poderes então… Ficam entre o tradicional, o “forçado” e o “nada comum”. E não é tudo: O jogo brinca até com os controles: ao contrário dos outros jogos de luta, que para disparar uma magia (ou golpe especial) você faz uma sequência no direcional e pressiona 01 ou mais botões de ataque, aqui você segura o botão de ataque e faz a sequência no direcional, solta tudo e tem que ser no timing perfeito. E isso exige treino para pegar a manhã. Resumindo: é um game para dar risada, sim, mas para levar a sério também. Claro que não é o melhor título do console. Por exemplo, ele tem um problema sério de ser meio impreciso na movimentação. Mas eu já tô achando que até isso é de propósito… XD
Theme Park é um ótimo jogo de simulação, educativo, no estilo SimCity 2000 e Rollercoaster Tycoon. Esta categoria de jogos foi uma febre dos PCs dos Anos 90 e a versão do Jaguar é tão boa quanto a de PC. No jogo você é um empresário que deve construir um parque de diversões. Simples? NEM UM POUCO! Começa que você precisa analisar o local do parque, a região onde será construído, pois o humor, as preferências e a disposição do público em ir conhecer seu parque muda. Depois você começa com algumas poucas opções de atrações. Conforme você vai progredindo seu parque, você deve investir em P&D para criação de novas atrações, produtos e publicidade para seu empreendimento. Precisa contratar funcionários, pagar salário, encontrar bons fornecedores e negociar preços de suprimentos, tem os gastos mensais, gerenciamento de acidentes e manutenção… O jogo é uma verdadeira escola de gestão! Não é à toa que seu manual é extenso!
POR QUE TODOS FALAM MAL?
O console tem uma arquitetura muito complexa. Mesmo nos dias de hoje criar um software que seja capaz de dividir suas instruções entre 02 ou mais processadores exige muita habilidade técnica e recursos. Imagine uma máquina com 05 processadores de 03 capacidades diferentes… Em 1993! Era poder de fogo demais para a época. Imagine que você é um mecânico de garagem e recebe um disco voador para consertar… Mais ou menos isso! XD
Nós vimos esse problema de hardware com arquitetura complexa também no Sega Saturn; não é nem de perto exclusividade do Jaguar.
Outro problema é que o Jaguar já recebeu games 3D logo no seu lançamento. E esses jogos eram “feios”, com gráficos 3D muito rudimentares e sem textura (podemos citar Club Drive aqui e mencionar o próprio Cybermorph). Em 1993 essa tecnologia era muito “crua”. As sofhouses ainda estavam aprendendo o novo conceito e fazendo experimentações com as possibilidades de games. Haviam poucos profissionais com experiência em desenvolvimento de jogos em 3D e essa experiência devia ser bem pequena, pois o conceito, novamente, era muito novo ainda. Bom, o conceito em si, não, mas seu uso da forma que conhecemos hoje, sim. Ou seja, o maior problema do Jaguar, infelizmente, era estar pelo menos 02 anos à frente de seu tempo.
Outro problema que a primeira leva de games do console sofreu foi a pressa. Sim, porque além de Cybermorph, Trevor McFur In The Crescent Galaxy e Club Drive, o port de Doom também não possui músicas. E o pior é que nas telas de abertura, opções e transição de fase de cada um desses jogos há ótimas músicas! A única justificativa para isso, segundo Edson Godoy, criador do portal Video Game Data Base e proprietário do maior acervo Atari Jaguar do país e um dos mais completos do mundo, era a pressa em lançá-los em pouco tempo que fez com que a trilha sonora destes primeiros jogos não fosse composta.
Porém, obviamente é claro que a esmagadora maioria dos games do Jaguar possui trilha sonora, especialmente os do Jaguar CD. Tanto que Tempest 2000 é aclamado com um dos games com a melhor trilha sonora já produzida para um videogame até hoje tendo, inclusive na época, sido lançado em CD, provavelmente um dos primeiros jogos a ter sua trilha sonora lançada.
Outro detalhe do console que, como já dito, todos criticam é o controle. Eu entendo a estranheza que o seu teclado numérico possa ter causado, mas aí dizer que é uma bost* é exagero. Todos os jogos vinham com um cartão que você afixava sobre o teclado, onde haviam desenhado as funções de cada botão usado no jogo (overlay). E os jogos, pelo menos esses que estou jogando, empregam o uso deles de forma natural e não atrapalha o fluxo do jogo.
Por fim sempre se vê por aí que o Jaguar só tem jogo ruim, o que é mais que um equívoco! Como já deu para ver aqui, vários dos jogos dele tidos como ruim não são necessariamente ruins. Da mesma forma que, obviamente, existem sim jogos excelentes para ele. Você sabia que Rayman nasceu no Jaguar? Alien vs. Predator é sempre lembrado como a joia máxima do console e um dos melhores games FPS de todos os tempos, pra variar à frente de seu tempo em várias características inovadoras. Mas este não tive o prazer de jogar, ainda. 😉
SUCESSO NOS ENCONTROS 2JOIN
“Sonic você está criando uma revolução. Está trazendo o Jaguar de volta a vida!” disse minha esposa esses dias enquanto falávamos sobre a euforia dos amigos no encontro 2Join ao experimentarem jogar um pouco no meu Atari Jaguar.
“Peraí, euforia?!”
Sim, mancebo. Euforia. Na primeira edição do Encontro 2Join Curitiba, em outubro de 2016, fiz questão de levar meu Jaguar com todos os meus 06 games para lá. Assim que arrumei minha estande foi sucesso imediato. A galera tirou fotos, teve gente que pediu para jogar um pouco do famoso Kasumi Ninja, muitas risadas e deboches, mas praticamente todo mundo interessado no felino.
Na segunda edição, de novembro, levei outros consoles e não ele. E a galera pediu para que eu levasse para a terceira edição. Tanto que eu levei praticamente só ele de console! Mal deu tempo de organizar as coisas na mesa os novos membros do grupo vieram conhecer o console. Já instalei ele na hora e coloquei Wolfenstein 3D para rodar. Resultado: 03 para 04 caras convertidos para o Lado Felino da Força! Inclusive um dos caras gostou tanto que já determinou adquirir um Jaguar para sua coleção! =D
Em resumo: o Atari Jaguar chama a atenção primeiramente por ser um console raro, de difícil acesso, depois por ser “exótico”, diferenciado em todos os sentidos, para então surpreender quem decidir por jogar um pouco e ver por si mesmo a experiência de se jogar um game de Jaguar.
É… Nada mau para um console bost* que só tem jogo ruim, né?! =P
CONCLUSÕES FINAIS
Se você é um que critica o Atari Jaguar sem nunca ter jogado nele, vai lá ver que sua mãe tá te chamando com o seu todinho quente e deixa a gente tratar com gamers de verdade, beleza?
Acredito que a má fama do console, tal qual vemos hoje, começou com a popularização do Youtube e os vídeos do Angry Video Game Nerd (AVGN). Para quem não sabe, há uns anos (acho que 2008) ele fez alguns vídeos criticando o Atari Jaguar. Mas o fez da mesma forma que fez com muitos outros consoles, jogos e acessórios. E as críticas eram engraçadas, exageradas mesmo, para rir e “cutucar”. Pouco depois disso “retrogames” tornou-se um termo popular, colecionismo tornou-se moda, a cultura geek ganhou força e apareceu e começaram a surgir centenas de canais só sobre games antigos no Youtube, além de blogs. Muitos excelentes, feitos por gente que realmente coleciona, estuda videogame antigo e possui uma vida de experiências com o que apresentavam. Mas infelizmente, a maioria eram apenas adolescentes idiotas que não tinham sequer tido contato com vários dos jogos que apresentava, mas o faziam porque os grandes canais / blogs estavam falando sobre ele. E se o AVGN xingou o Jaguar, também vou xingar, né?
Como acontece muito hoje, de haverem muitos canais de moleque “ioutúber gueimer” que só copiam o que outros falam e só sabem fazer top 10 disso e daquilo. Gerar conteúdo verdadeiro, embasado em experiência, muito poucos. Pior ainda são aqueles que decidiram começar a colecionar videogames, saíram comprando tudo que viam pela frente, caindo em papo de vendedor abusado, tirando itens preciosos de circulação, fazendo os preços de tudo subir muito nos últimos anos… E tudo só para se aparecer.
Portanto, ao menos que você tenha pegado um Atari Jaguar na mão, empunhado seu controle e jogado pelo menos uns 03 jogos dele por pelo menos uns dias, você não tem autoridade e sequer direito de criticá-lo. Não se pode ter opinião sobre algo que não se sabe o que é. E isso vale para quaisquer games, ou quaisquer assunto que seja.
Agora deixa eu voltar aqui para o meu queridinho, que ainda tenho muitas fases de Wolfenstein 3D para avançar, embora já esteja finalmente chegando no final do jogo! E muito exercício mental para fazer com o Evolution: Dino Dudes!
Texto publicado originalmente no blog GamerDesconstrutor =D