(ATUALIZADO) Biolab Wars – 2 Join Review

O que tem em comum um jogo Brasileiro, um cachorro vestido de astronauta e o preço de uma coxinha?

Eu respondo: Biolab Wars. Não entendeu? Chega aqui que eu explico.

Conheci esse jogo através do perfil @JPSWITCHMANIA no twitter, que em seu podcast lançou um desafio: cada integrante teria que sugerir um jogo de Nintendo Switch que custasse menos de 1 dólar; Ele escolheu Biolab Wars, que no momento custava US$ 0.49 (mais ou menos o preço de uma coxinha, na conversão para o Real). Fui buscar mais informações e tive duas grandes surpresas: o jogo é Brasileiro e um dos personagens é um cachorro com roupa de astronauta (na verdade parece roupa de astronauta mas é uma armadura com um blaster nos braços, no melhor estilo Samus Aran/Megaman).

Biolab Wars e seus heróis
Biolab Wars e seus heróis

Aí já era, com tudo isso não demorou muito para eu me apaixonar e não querer largar mais. Quando joguei pela primeira vez me senti como o Ego, do filme Ratatouille, levado de volta para minha infância (com a diferença que não comi nada feito por um rato). Gostei tanto, mas TANTO, que resolvi até escrever algumas linhas aqui e compartilhar algumas das minhas impressões sobre o jogo.

Personagem Ego de Ratatouille voltando à sua infância, tal como o autor desse post.
Biolab Wars é uma volta no tempo

Desenvolvimento

Apesar de só ter conhecido esse jogo recentemente, Biolab Wars já tem um bom tempo de estrada. Desenvolvido pelo Estúdio Brasileiro 2nd Boss Game Studios – antes conhecido como “Kolibri Game Studios”, e publicado no Switch pela Forever Entertainment (uma das maiores publishers no console, responsável por títulos como Panzer Dragoon Remake, por exemplo), foi lançado em agosto de 2019. O jogo também está disponível no Steam e é tão leve que roda em qualquer computador que tenha mouse, teclado e uma tela.

A história

Seguindo a linha “jogo de ação dos anos 80”, a história é bem simples: um laboratório alienígena está fazendo experiências na terra e o governo chama uma equipe de mercenários que precisa sair explodindo tudo o que aparecer pela frente (Michael Bay curtiu isso) pra acabar com a ameaça.

São três personagens jogáveis:

Tela de seleção de personagens de Biolab Wars
Descrições retiradas da página do jogo no Steam
  • Finn: marombeiro, e-fuzileiro, ex-chapeiro e ex-técnico de televisão;
  • Becca: a moça mais mortal e durona do pedaço;
  • Teddy: o cão de armadura (isso mesmo que você leu), que sofreu experiências nesse laboratório alienígena e agora quer vingança, ou apenas encontrar seu dono.”

Os três personagens tem as mesmas habilidades, mudando apenas a skin e o veículo que eles utilizam na segunda fase do jogo. Eu obviamente optei pelo cachorro que anda de lambreta.

Bip Bip, Motherfucker!

Gameplay

O Gameplay não podia ser diferente: sair correndo pelas 7 fases atirando em tudo o que aparecer pela frente, e no final derrotar o chefão. Sim, ele segue a mecânica de jogos como Contra e Journey to Silious (que por sinal é um dos meus jogos favoritos do Nintendinho). Com um nível de dificuldade bastante honesto, o jogo não te sacaneia (exceto na fase 4 onde tem um pulinho cretino pacas), você praticamente só morre se for ruim mesmo.

Fuim ruim, admito.

As batalhas com os bosses seguem o estilo Megaman: salas fechadas, você e o chefão no mano-a-mano e um padrão de ataques. Após reduzir um determinado nível de vida o chefe muda o padrão, e assim vai até derrotar. Nas fases 2 e 4 a coisa muda de figura, com batalhas sobre motos e em um barco, respectivamente.

Chefão da fase 2
Chefão da fase 6
Chefão final

Os controles são simples, com apenas 3 botões (além do direcional): A Pula, B atira e Y solta granadas. No decorrer das fases você tem acesso a 4 tipos de armas, que eu carinhosamente batizei de:

Metranca: a arma básica do jogo. A única com munição infinita.

Tiro Triplo: clássica nos jogos de tiro. Como o próprio nome diz, atira em três direções.

Rajada (?): um tiro esquisito, que parece uns dardos.

Bola Maluca: atira uma bola de energia pra frente além de tiros simples pra cima e pra baixo.

Com exceção da metralhadora, todas as armas possuem munição limitada e você tem que coletar mais durante as fases.

Além das armas ainda existem dois bichos voadores (um gato e uma galinha) que possuem sua própria barra de vida e te ajudam atirando nos inimigos. O gato atira em diagonal pra baixo e a galinha tem um tiro que vai reto.

Miau

Visual

Os cenários e personagens são todos feitos em estilo 8-bits, portanto espere encontrar muitas cores saturadas, sprites pouco detalhados e coisas do gênero, mas não se assuste: tudo casa perfeitamente com a proposta do jogo e fica lindo de ver. Por se tratar de fases com temáticas diferentes (florestas, cidade, neve, fábricas e ruas) os cenários não se tornam repetitivos nem cansativos.

Tela de seleção de fases de Biolab Wars
Cuidado pra não escorregar

Além da estética, o estilo adotado também afeta outra questão – o desempenho. Como já citei anteriormente, um PC com mouse, teclado e tela é o suficiente pra rodar, então o Switch sobra nesse quesito. Mesmo com a tela cheia de inimigos e coisas explodindo, não é perceptível uma queda de frames, o que faz com que a jogatina seja fluida e agradável.

A beleza do cenário e a movimentação do fundo

Trilha sonora

Com efeitos de chiptune, as músicas do jogo são no estilo synth-rock-8-bits (na verdade nem sei se isso existe, mas gostei da sonoridade), lembrando em alguns momentos a trilha de jogos como Megaman e até mesmo Street Fighter 2, o que agrega ainda mais valor à obra. Dá pra deixar em looping traquilamente e ficar só curtindo a sonzeira que às vezes pode passar batida durante a jogatina com o excesso de tiros e explosões.

DICA: a trilha sonora está disponível no Steam por apenas R$ 2,29 (à vista, sem parcelamento), então compre e escute a qualquer momento sem interrupções, já que dá pra adquirir a trilha sem ter o jogo e não precisa estar com o Steam aberto pra poder ouvir.

Mas se você é pão-duro, dá pra desativar os efeitos sonoros e deixar só a música rodando durante a jogatina, sem os barulhos de tiro e explosões interferindo.

O cachorro Teddy em um barco
O sooooole miiiioooooo

Segue a lista das musicas, compostas por Zé Roberto Chapolin:
1 Prologue 1:55
2 Main Theme 2:40
3 Cleaning in the City 3:13
4 Gasoline, Speed and Cool Bikes 2:35
5 Experiment Lab 2:51
6 King of the Jungle 2:45
7 The 7 O’Clock Train 3:12
8 Snow, Sweat and Traps 3:04
9 Nest Cleaning 2:44
10 Boss battle 2:44
11 Epilogue 2:37

Mas vale a pena?

Se depois de tudo o que foi trazido até aqui você ainda se pergunta se Biolab Wars vale a pena, então afirmo categoricamente: você tem problemas, procure ajuda. Sério.

Normalmente eu não sou dos mais saudosistas e resisto bastante a jogos estilo retrô, mas dessa vez admito que fui pego no contrapé e caí direitinho na combinação “jogo retrô + brasileiro + cachorro“, e não me arrependo nem um pouco. Por mais que tenha citado vários jogos que me vieram à mente, Biolab Wars se utiliza disso pra homenagear as suas inspirações, não para se tornar apenas mais uma cópia. É um jogo curto mas excelente pra passar um tempo descompromissado na frente do video-game e voltar um pouquinho a uma época onde as coisas eram mais simples. Resumindo então: COMPRE SEM MEDO.

Nós entramos em contato com Abdel Oliveira, Designer de Biolab Wars, que foi gente finíssima e nos deu a oportunidade de trocar uma ideia e responder algumas perguntas da nossa equipe. Ele também foi convidado para participar do nosso Joincast Especial do dia 15/06 e prontamente aceitou o convite, então não percam.

ATUALIZAÇÃO: Joincast já disponível, assista abaixo, curta e se inscreva no canal pra dar uma força pra gente.

Fiquem agora com a nossa mini-entrevista:

2 Join: Primeiro gostaria que falasse um pouco sobre o estúdio, seus projetos e a sua experiência e inspirações como desenvolvedor.

Abdel Oliveira: O estúdio começou em 2016 com meu sócio Fernando, trabalhávamos juntos já um tempo (uns 15 anos haha) como programadores e ele ficou martelando na minha cabeça que deveríamos para de jogar GTA V e fazer jogos. Então eu dei cobertura enquanto ele aprendia Unity e depois foi minha vez de (tentar) aprender pixel art. Primeiro lançamos para mobile, quando nosso jogo principal (Missile Escape) começou a ter uma boa visibilidade, decidimos mudar de carreira, e no ano seguinte a 2ndBoss nasceu. Como somos dois anciões de 40 anos, naturalmente nossas inspirações são os jogos da nossa infância na era 8 e 16bits.

2 Join: Acho que a pergunta “de onde veio a ideia de fazer Biolab Wars?” é meio inevitável, não?

Abdel Oliveira: O BW foi inspirado nas coisas bizarras que passavam na TV dos anos 80, quer dizer, você tinha cachorros policiais (K9), caras bombados que atiravam na galera com lança míssil portátil (Commando) e mulheres “badass” que deitavam alienígenas na porrada (Alien), tudo era muito exagerado e colorido, e era isso que queríamos passar. Então pensamos na história mais clichê possível, em personagens e chefes que poderiam facilmente fazer parte do enredo de qualquer filme B, e misturamos em um action platformer.

2 Join: Se você pudesse mudar algo no Biolab Wars, o que seria?

Abdel Oliveira: Mudaria o level design de algumas áreas com buracos. Além disso, desde o começo a intenção era ter o tiro apenas na horizontal, mas as pessoas esperavam atirar em 8 direções, pois a identificação com Contra foi natural.

2 Join: Quais as maiores dificuldades na criação de um game? Em algum momento você pensou em largar tudo e desistir de Biolab Wars?

Abdel Oliveira: Acho que a maior dificuldade é você saber pra onde vai, quer dizer, se você sabe programar, desenhar, etc., ainda precisa saber o que fazer com isso. Mesmo perdendo um tempo no começo para planejar, ainda assim você terá momentos de total escuridão, e vai precisar dar um passo pra trás, ou focar em outra parte do jogo. É um processo artesanal, você está lá todos os dias, 10/12 horas esculpindo o seu jogo, pixel por pixel, linha por linha de código. Mas claro que tinha dias que eu preferia abrir Dark Souls 3 e ficar tentando invadir o mundo de alguém…

2 Join: Como surgiu a possibilidade de trazer Biolab Wars para o Switch? O relacionamento com a Nintendo e a Publisher foi tranquilo e o processo foi rápido ou houve algum percalço?

Abdel Oliveira: Ir para os consoles era o nosso foco principal, o Steam infelizmente não é mais um território amistoso para indies, são muitos jogos lançados por dia, então se você não tem uma grande publisher por trás, ou um grande público que te conheça, seu jogo vai pro limbo do esquecimento rapidamente.
Mas para chegar no Switch é difícil, pois a Nintendo não abre a porta pra todo mundo, então o melhor caminho para um indie é fazer uma parceria de port com uma publisher. Dessa forma, logo após o lançamento no Steam, comecei a mandar keys para todas as publishers que encontrei, e 99% delas nem responderam. Então das que estavam no 1%, e após bastante papo, escolhemos a Forever. Como o meu sócio é um cara muito organizado e metódico em termos de programação, foi mamão com açúcar para a publisher fazer o port. Eles falaram que o processo levaria 6 meses, mas foi tão fácil que no mês seguinte já haviam marcado a data de lançamento.

2 Join: Minha maior dúvida: como  um cachorro de armadura foi parar no jogo?

Abdel Oliveira: Inicialmente só teria o Finn e a Becca, mas depois pensamos “qual é, um cachorro seria legal”. E eu tenho 7 cachorros, então homenagens precisam ser feitas. O mais engraçado é que olhando as conquistas da Steam, a maioria termina o jogo com ele.

2 Join: E seus próximos projetos? podemos esperar mais cachorros armados até os dentes?

Abdel Oliveira: Nosso próximo jogo se chama Savage Halloween, e entre os personagens jogáveis, você pode escolher o Lulu, que é um filhote de cachorro que se torna um lobisomem. Esse jogo está bem próximo de anunciarmos a data de lançamento, e no momento estamos polindo, testando e enchendo o saco do cara do áudio.
Paralelamente, estamos fazendo um “prequel” do BW contando a origem da armadura do Teddy e do seu parceiro anterior, usando a paleta do Game Boy, porém com uma pegada bem mais Contra.

2 Join: Pro pessoal que está lendo essa matéria e que está pensando em desenvolver um jogo, que dicas você daria?

Abdel Oliveira: Não espere por ninguém. Faça. Observe, jogue, e tente entender como foram feitas as coisas nos jogos que te inspiram. Comece sempre pelo mais simples. E sempre tenha em mente que cada dia que você perde tempo fazendo outra coisa, é um dia que você está mais longe do seu jogo.

Biolab Wars está disponível na Eshop do Nintendo Switch, com preços variando em torno de R$ 5,00 dependendo do país escolhido, e também no Steam por R$ 4,49.

Fmrbass

Fã de Zelda e adepto da Nintendo desde que se conhece por gente. Fora um Atari e um Mega Drive, todos os seus outros consoles foram Nintendo. Nunca teve um Playstation ou Xbox (e nem pretende ter), já que nunca viu motivo pra isso.