2 Join Analisa – Forma.8 (Nintendo Switch)
Vários jogos Indies tem sido anunciados para Nintendo Switch e um deles me chamou atenção: com gráficos vetoriais que me lembraram muito Limbo (um de meus jogos favoritos), Forma.8 parecia ser uma excelente opção para quem curte jogos de exploração (o famoso “metroidvania“). Mas será que o título desenvolvido pela italiana Mixedbag era mesmo tão bom quanto parecia?
Entrei em contato com a desenvolvedora via Twitter perguntando sobre a possibilidade de receber uma Key para analisar o jogo. Gentil e prontamente responderam o contato, e em algumas horas eu estava baixando o jogo. Feito o download, fui ansioso e com as expectativas lá em cima para ver se Forma.8 era tudo aquilo mesmo.
E não é que era?
Logo de cara fiquei impressionado com o menu em português (+15 de carisma). O som dos menus lembrava o de um sabre de luz (+10) e a abertura do jogo era uma referência clara à Star Wars (bom, pelo menos na minha cabeça a referência era clara). Menos de 5 minutos e Forma.8 já tinha me lembrado muita coisa de que eu gosto. Ótimo sinal.
Começou o jogo e eu estava lá, controlando uma Sonda solitária, explorando um planeta inóspito e sem ter ideia do que eu tinha que fazer. O jogo inicia sem um tutorial, sem waypoints, sem dicas, sem absolutamente nada. É praticamente um “te vira aí que tu não é quadrado” (o que faz bastante sentido, já que a sonda tem formato de um circulo).
Inicialmente há apenas um comando: o analógico esquerdo move a sonda em qualquer sentido. Posteriormente você adquire novas habilidades, como uma espécie de EMP (pulso eletro-magnético), uma bomba que pode ser arremessada pra longe utilizando o EMP, um dash e ainda um tipo de teletransporte, que ajuda tanto a fugir dos inimigos quanto acessar áreas especiais. Cada um desses recebe melhorias conforme você encontra algumas porcas (no sentido mecânico da coisa) espalhadas pelo mapa. A cada 10 encontrados é liberado um upgrade em um local que abriga uma espécie de câmara.
Em Forma.8 há uma variedade regular de inimigos, sendo basicamente insetos, plantas e artrópodes (fala sério, quantos reviews vocês já viram que citaram a palavra “artrópodes”? 2 Join também é cultura, viu?). Alguns ficam lhe seguindo enquanto outros só atacam se forem perturbados. Em alguns casos é necessário até trabalhar em conjunto com eles para poder resolver alguns puzzles e seguir no jogo (inclusive essa é uma das passagens mais criativas e dinâmicas do jogo, mas não vou entrar em detalhes pra evitar spoilers).
Claro que monstros enormes também não poderiam faltar, e em algumas batalhas é aplicado um recurso interessantíssimo: a imagem se afasta, deixando seu personagem ainda menor e dando a impressão de que o inimigo é realmente gigantesco. Sem dúvidas é um belo truque mental utilizado que faria Obi-Wan Kenobi morrer de inveja.
Bem, mas um jogo de exploração não é bom se não tiver duas coisas:
1- Puzzles variados
2- aquele vai e volta que te faz passar pelo mesmo lugar centenas de vezes até que você se convença de que realmente não faz ideia de onde ir.
Forma.8 tem essas duas coisas, e de sobra. Vários puzzles no início parecem complicadíssimos mas depois de resolvidos se mostram tão simples que a sua cara vai ao chão. Inclusive, em alguns momentos o jogo te induz a ir pelo raciocínio mais complexo pra depois te jogar na cara que era só ter ido para o outro lado e o caminho seria muito mais simples.
Isso sem falar que em algumas partes do cenário existem símbolos que futuramente vão lhe auxiliar em alguns quebra-cabeças, mas isso é colocado de forma tão discreta que tem que estar atento pra perceber.
Andar em círculos também é algo tão normal que daqui a pouco os inimigos vão começar a me chamar pelo nome, de tanto que já passei pelo mesmo lugar. O mapa ajuda, mas ainda assim é bem simples e não dá muitos detalhes (o que pareceu ser proposital, feito pra confundir mesmo). Só no decorrer do jogo, após completar um determinado puzzle é que o mapa diferencia as salas entre brancas e azuis (azuis é onde tem algum item pra pegar). Fora isso, somente informações de pontos de teletransporte.
Ficar perdido e andando de um lado para o outro não é dificuldade, é incompetência do jogador. Admito isso aqui em público. Forma.8 mantém um nível de dificuldade que oscila entre o tranquilo e o moderado, com alguns momentos tensos e outros beirando o insano.
Esse foi pra mim um dos pontos negativos do jogo: algumas passagens são ABSURDAMENTE DIFÍCEIS e destoam demais do resto ao ponto de quase me fazerem desistir algumas vezes. Mas teimoso que sou, morri, tentei de novo, morri de novo, tentei de novo, morri de novo, xinguei, tentei de novo, xinguei mais uma vez por ter morrido de novo, e assim foi até o momento em que consegui passar. Depois disso segui o jogo até a próxima parte de insanidade e tudo se repetiu. Parece que a Mixedbag resolveu colocar umas partes assim pra dar uma sacanaeada nos jogadores, mas se o cara não for teimoso mesmo pode até desanimar e acabar largando o jogo e não aproveitar ao máximo tudo o que ele tem de bom.
E olha o que você pode perder: Forma.8 possui um final alternativo que só acontece quando você coleta todas as 50 porcas (aquelas citadas lá em cima) que estão espalhadas pelo jogo, senão o famoso “Bad Ending” lhe aguarda. Portanto, vale a pena explorar cada canto até encontrar tudo o que falta.
Aqui preciso fazer uma confissão: chegou um momento do jogo que eu não fazia a menor ideia do que fazer e pra não desistir recorri ao nosso bom e velho google pra me ajudar e a partir dali a coisa engrenou e o jogo ficou ainda mais interessante. Parece que nesse caso, saber o que vai acontecer não te desanima, muito pelo contrário: te deixa curioso para conseguir chegar lá e ver com os próprios olhos.
Propositalmente deixei pra abordar por último duas coisas que casaram perfeitamente em Forma.8: visual e trilha sonora. Forma.8 consegue te dar uma sensação de isolamento ao colocar uma trilha de pouco destaque em um ambiente de pouca vida. Vale deixar claro aqui que “pouco destaque” não está relacionado à qualidade, muito pelo contrário: a trilha é tão bem feita que te dá exatamente a sensação que deveria: solidão. Em alguns momentos o som muda radicalmente e sobe um solo de órgão que gela a alma, já preparando para o que vem pela frente. O visual (odeio o termo “gráficos”, isso pra mim é coisa de indicador de empresa) é simples, porém lindo. Os cenários da superfície são exuberantes, e com a música perfeitamente combinando me trouxeram até algumas dúvidas existenciais. Em alguns momentos achei até que cairia um monólito e eu ficaria adorando-o, reduzindo-me às minhas origens símias, mas acabou não acontecendo.
Com tudo isso aqui citado a MixedBag conseguiu fazer um jogo de excelente qualidade e que com certeza deixará sua marca entre os Indies. Forma.8 vai além de um amontoado de referências e influências, ele consegue tirar várias lições boas e transformar tudo isso em um ótimo jogo com sua própria identidade e que com certeza não irá decepcionar os fãs do gênero.
Pra mim, Forma.8 entra no Hall de grandes Games Indies, junto com Limbo, Steamworld Dig, Guacamelee, To the Moon e Hotline Miami.
Forma.8 está disponível na E-Shop do Switch por US$ 9,99 (EUA), ou US$ 14,99 (Canadá). Quem quiser também pode adquirir para aqueles outros consoles menos interessantes que tem no mercado e para aquele telefone da maçã que custa o olho da cara, mas aí não faço ideia dos valores.
Agradecemos imensamente ao pessoal da Mixedbag por ter nos cedido te forma tão gentil a chave para análise deste jogo.